Inspirada no coração humano, a bóia converte o movimento das ondas em eletricidade limpa em Portugal.
ELETRICIDADE
3/10/20254 min read
Os oceanos cobrem 71% da superfície terrestre, sendo um dos recursos renováveis mais valiosos, mas ainda pouco explorados.
A energia gerada pelas ondas do mar tem um potencial imenso e pode desempenhar um papel fundamental na transição para fontes de energia mais limpas. De acordo com a Agência Internacional de Energia, é necessário um crescimento anual de 33% na produção de energia a partir dos oceanos para que seja possível alcançar um mundo sem emissões líquidas até 2050.
José Miguel Rodrigues, investigador principal do SINTEF, um dos maiores centros de investigação da Europa, afirma que "a energia das ondas e das marés tem o potencial de se tornar uma fonte de energia importante, confiável e sustentável".
O Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC) prevê que a energia das ondas pode gerar até 29.500 TWh por ano, um valor que representa quase dez vezes o consumo anual de eletricidade da Europa, superando inclusive a eletricidade gerada globalmente em 2018.
A energia das marés tem um potencial global estimado entre 800 e 1200 TWh, particularmente em áreas de água estreita, como enseadas e regiões em redor de ilhas", afirma Rodrigues. "Sendo regida por ciclos gravitacionais previsíveis e não pelas condições meteorológicas, [a energia das marés] oferece um fornecimento estável de eletricidade, contribuindo para o equilíbrio da rede.
O dispositivo conversor de energia das ondas, inspirado no funcionamento do coração humano.
O especialista em cardiologia Stig Lundbäck inspirou-se no bombeamento do coração humano para co-fundar, em 2009, a empresa sueca de energia das ondas CorPower Ocean.
Após anos de pesquisa hidrodinâmica, a empresa desenvolveu o "CorPack" – uma bóia de grandes dimensões, construída com materiais leves e duráveis, que converte o movimento das ondas em eletricidade limpa e estável.
Semelhante à forma como o coração utiliza a pressão hidráulica para bombear o sangue numa única direção, o CorPack funciona aplicando tensão sobre si próprio, puxando a bóia para baixo, enquanto as ondas a empurram para cima. Esse movimento das ondas é transformado em rotação, que posteriormente é convertida em eletricidade por geradores.
O mecanismo do conversor de energia das ondas possibilita a recolha de uma grande quantidade de energia num dispositivo relativamente pequeno e de baixo custo, como explica um porta-voz da CorPower Ocean.
De acordo com a empresa, o conversor é capaz de produzir mais de cinco vezes a eletricidade por tonelada de equipamento em comparação com as tecnologias de energia das ondas de última geração.
Rodrigues considera a inovação da CorPower Ocean uma conquista relevante. "A CorPower tem avançado de forma consistente ao longo das diferentes fases de desenvolvimento, garantindo investimentos e bolsas de investigação, especialmente da União Europeia", afirma.
"A sua abordagem estruturada permitiu-lhes colocar um dispositivo no mar, um feito significativo, dado o financiamento limitado disponível para a energia das ondas e das marés na Europa."
O primeiro conversor de energia das ondas em escala real da CorPower Ocean está instalado ao largo da costa norte de Portugal, perto da Aguçadora (Póvoa de Varzim), onde já está a fornecer energia à rede elétrica portuguesa.
Existem muitas outras empresas e organizações de investigação a tentar tirar partido do potencial da energia dos oceanos.
Outros exemplos notáveis incluem a empresa italiana ENI, com o seu Conversor Inercial de Energia das Ondas Marítimas, o Nanku, construído na China - um gerador flutuante alimentado pelas ondas - e o WaveRoller da AW-Energy, com sede na Finlândia, composto por grandes painéis subaquáticos.
Por que razão a energia das ondas recebe menos destaque do que a energia eólica e solar?
A energia solar representou 7% da produção global de eletricidade em 2024, segundo a Agência Internacional de Energia. Nos próximos dois anos, espera-se que a energia solar consiga cobrir quase metade da procura mundial de eletricidade, enquanto a energia eólica deverá responder por cerca de um terço dessa demanda.
As ondas possuem a maior densidade energética entre todas as fontes renováveis. Embora estejam intimamente associadas ao vento, as ondas são menos "variáveis" do que a energia eólica. A energia das marés, por sua vez, é considerada a fonte renovável variável mais previsível.
Apesar desse grande potencial, as tecnologias de energia das ondas e das marés estão a ficar atrás na corrida pela transição para energias limpas.
"O principal desafio é a competitividade", explica Rodrigues. "Ao contrário da energia eólica e solar, a energia das ondas e das marés ainda não conseguiu demonstrar tecnologias comercialmente viáveis em grande escala. A energia das ondas enfrenta desafios rigorosos em termos de desempenho consistente e capacidade de resistir às forças oceânicas extremas. Muitos protótipos falharam ou tiveram um desempenho abaixo do esperado, enquanto a energia eólica e solar offshore já demonstraram fiabilidade e redução de custos."
Quais são os países europeus com maior capacidade para explorar a energia das ondas?
"Os países com costas expostas a fortes ondulações atlânticas - como Portugal, Espanha, França, Irlanda e Reino Unido - apresentam as condições mais favoráveis para o desenvolvimento da energia das ondas em grande escala", explica Rodrigues.
"A Noruega, com a sua extensa linha costeira e várias comunidades insulares isoladas, tem um mercado promissor onde a energia das ondas pode contribuir para a redução dos custos da rede e para aumentar a independência energética."
Além da viabilidade técnica, o sucesso da energia das ondas depende também da viabilidade económica, da aceitação social e de políticas públicas de apoio.
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